
02 jan Os Seldjúcidas
O nome seldjúcida provém de Seljuk, fundador deste povo. Entre as principais características, destacam-se a divisão em tribos e o nomadismo. Os seljúcidas são originários do ramo Qynyk dos oguzes, que no século IX viveram na periferia do mundo islâmico, ao norte dos mares Cáspio e Aral no Khanganato Yabgu da confederação oguz, nas estepes do Turcomenistão. Durante o século X, devido a vários eventos, os oguzes entraram em contato estreito com as cidades muçulmanas.
No fim da década de 900, instalaram-se em região próxima de Bukara (Uzbequistão). Então, um grupo de guerreiros segue para o ocidente com o objetivo de encontrar mais terras e expandir os territórios seljúcidas. Os Seldjúcidas converteram-se ao islamismo no século X.
Quando Seljuk, o líder do clã seljúcida, desentendeu-se com Yabgu, o chefe supremo dos oguzes, ele dividiu seu clã da maior parte dos turcos-oguzes e montou acampamento no banco ocidental do baixo rio Sir Dária (Jaxartes). Em 985, Seljuk converteu-se ao Islã. No século XI os seljúcidas migraram de suas terras natais para o interior da Pérsia, onde encontraram o Império Gaznévida.
Lá, eles derrotaram os gaznévidas na batalha das planícies de Nasa em 1035. Na batalha de Dandanaqan, eles derrotaram o exército gaznévida, e após cerco bem sucedido de Nixapur, Togrul Beg, em 1050-1051, estabeleceu um império mais tarde chamado Império Seljúcida. Os seljúcidas se misturaram com a população local e adotaram a cultura e língua persas nas décadas seguintes; a última foi empregada como língua oficial do governo.
Sob o comando de Togrul Beg, neto de Seljuk, Ispahan caiu também em seu poder, passando a ser a capital. Penetrou pelo sul no Iraque, cuja capital, Bagdá, ocupou-a em 1055, derrotando os Buwayhidas e se fez reconhecer como sultão e protetor do califa.
O líder dos Seldjúcidas, Toghrul-Beg, então, foi nomeado pelo Califa de Bagdá como Sultão, o que correspondia a uma separação definitiva entre os poderes temporal e religioso, ficando o primeiro a cargo do Sultão e o segundo nas mãos do Califa. Os seus sucessores, Alp Arslan e Malik Shah, prosseguirão a sua obra, estendendo largamente os seus domínios para a Síria, Palestina e Anatólia. Por serem Sunitas, os Seldjúcidas combateram o Xiismo, que havia se tornado dominante no período de governo dos Buwayhidas.
Entre suas características marcantes, os seljúcidas eram conhecidos por uma política que apresentava programas de construção de grandes obras para a população. Em seu territórios, desenvolveram projetos e construíram escolas públicas, empresas caravaneiras, fundações beneficentes, hospitais e mesquitas. O sufismo, corrente mística do Islã, desenvolveu-se entre os povos seljúcidas pelas madrassas, que eram instituições de ensino religioso mantidas pelo governo.
Um dos primeiros confrontos dos seljúcidas foi na famosa batalha de Manziquert, onde os bizantinos foram derrotados. Isso ocorreu no ano de 1071 quando Alp Arslan, sultão turco, conduzia o povo em direção à Armênia e sofreu ataque dos bizantinos, que na época eram comandados pelo imperador de Roma, IV Diógenes. A estratégia utilizada pelos seljúcidas para derrotar os guerreiros bizantinos demonstrava a inteligência deste povo no campo bélico. Primeiramente, simularam uma fuga, mas conseguiram cercar os inimigos e derrotá-los. Capturaram IV Diógenes e apenas o libertaram mediante pagamento de resgate. Com isso, terminaram com o poderio dos bizantinos na região da Ásia menor.
Esta batalha, travada contra o Império Bizantino, constituiu no início do fim deste. Aparentemente, foi apenas uma vitória heróica conquistada pelos Seldjúcidas, que apesar de estarem em franca minoria, lutavam de forma coesa e apaixonada, sobre um grupo enorme, o exército Bizantino, e heterogêneo, formado por mercenários de diversas partes do Império que, na hora do combate, foram incapazes de obedecer corretamente um comando central e, por isso, acabaram fragorosamente derrotados. Porém, foi muito mais do que isso, pois permitiu aos Turcos conquistarem as planícies da Anatólia (ou Ásia Menor), ou seja, a Armênia e a Capadócia, região vital para a sobrevivência do Império Bizantino, uma vez que era de lá que ele retirava a maior parte de seus gêneros agrícolas e também, os cavalos para seus cavaleiros. Sendo assim, sem a Anatólia, o Império Bizantino viu-se obrigado a importar cavalos para poder manter uma cavalaria, o que encarecia este tipo de tropa, essencial nas guerras Medievais e que limitava o exército Bizantino. A partir de 1071, quando ocorreu a batalha, apenas infantarias e tropas de arqueiros, lutavam impotentes contra as cavalarias Muçulmanas.
Após este confronto, os seljúcidas prosseguiram a foram responsáveis pela fundação de um império que originou o Sultanato de Rum, que precedeu o Império Otomano e foi o primeiro império turco estabelecido na área da Anatólia. Na época em que foram governados pelo xá Malik, os seljúcidas entraram em seu período áureo. No ano de 1078, invadiram e dominaram Jerusalém. Com isso, os cristãos que habitavam o território iniciaram uma série de embates contra os seljúcidas, originando as Cruzadas.
É importante notar a atuação dos Sultões Seldjúcidas, em especial Alp Arslan, filho do primeiro Sultão. Eles, com efeito, sediados na cidade de Isaphan (próxima a Bagda), recriaram o Império Islâmico, porém, agora em três frentes diferentes e com um caráter primordialmente Turco. As três frentes de expansão Seldjúcida eram respectivamente: a Anatólia, a Síria e o Irã.
Em 1084, os Turcos conquistam Antioquia. A Síria foi reconquistada aos Emires independentes que lá haviam se instalado. No Irã, ocorreu o mesmo e a Anatólia, por sua vez, depois da Batalha de Manzikert, foi pouco a pouco sendo ocupada pelos Seldjúcidas até se tornar realmente o novo Turquestão (há que se notar que a Turquia de hoje nada mais é do que a própria Anatólia, ou Ásia Menor).
A derrota do Basileu Romano IV na Batalha de Manzikert provocou profundo abalo no Império Bizantino. Inicialmente, foi a dinastia dos Ducas (a qual o Basileu pertencia) que caiu, em seu lugar entrou Nicéforo III, que percebendo a situação delicada em que se encontrava, começou a pensar em uma reaproximação com o ocidente ( reaproximação porque desde 1053, com o Cisma do Oriente (separação entre a Igreja Católica, com sede em Roma, e a Igreja Cristã Ortodoxa, com sede em Constantinopla), que as relações entre Constantinopla e o resto da Europa estavam estremecidas).
Esta reaproximação foi executada, no entanto, quando Aleixo I, o Basileu que assumiu, em 1081, requisitou ao Papa Urbano II o envio de uma força militar de apoio na guerra contra os Muçulmanos. O Papa aceitou o pedido (principalmente porque sua condição, a reunificação das duas Igrejas, foi aceita pelo Basileu) e, em 1095, no Concílio de Clermont, pregou a Cruzada com a desculpa de reconquistar Jerusalém, que se via nas mãos dos Muçulmanos.
A Primeira Cruzada, realizada entre 1096 e 1099, foi realizada, portanto, com o intuito de auxiliar o Império Bizantino na medida em que abria uma nova frente de combate contra os Turcos. Porém, ela só obteve sucesso (reconquistou Jerusalém, Belém, Nazaré e outras cidades, além de estabelecer Reinos Cristãos na Palestina) devido a fragmentação política dos Seldjúcidas decorrente da morte do Sultão Malik-Chah, em 1095. Este dividiu seu Império em três partes: a Síria, a Anatólia e a Pérsia, ficando todas independentes umas das outras, constituindo as duas últimas, Sultanatos próprios e a primeira estando dividida em dois Reinos.
Os Seldjúcidas entraram em decadência à medida que mergulharam na descentralização e sua queda foi precipitada quando, em 1258, os Mongóis, liderados por Hulagu, tomaram Bagdá e depuseram o último Califa Abássida, al-Mustasim. Os reides Mongóis, que se haviam iniciado no final do século XII, destruíram o Sultanato da Pérsia (o Irã) e depois o centro do antigo Império. Em 1260, os povos mongóis invadiram a Anatólia, dominando-a e a dividindo em pequenos emirados, que ficaram conhecidos como beylhiques da Anatólia.
Um destes beylhiques era o otomano, que dominaria os demais e conquistaria o poder na região.
Referências
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- Bernard Lewis, Istanbul and the Civilization of the Ottoman Empire, 29;
- Wikipedia
- “Institutionalisation of Science in the Medreses of pre-Ottoman and Ottoman Turkey”, Ekmeleddin Ihsanoglu, Turkish Studies in the History and Philosophy of Science, ed. Gürol Irzik, Güven Güzeldere, (Springer, 2005), 266;
- Andrew Peacock and Sara Nur Yildiz, The Seljuks of Anatolia: Court and Society in the Medieval Middle East, (I.B. Tauris, 2013), 71-72
- Paul Wittek, Rise of the Ottoman Empire, Royal Asiatic Society Books, Routledge (2013), 81
- Alexander Kazhdan, “Rūm” The Oxford Dictionary of Byzantium(Oxford University Press, 1991), vol. 3, p. 1816.
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