MOHAMMED ALI: O PAXÁ OTOMANO do EGITO, SÍRIA e ARÁBIA (1769-1849) - Império Otomano
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MOHAMMED ALI: O PAXÁ OTOMANO do EGITO, SÍRIA e ARÁBIA (1769-1849)

Mohammed Ali Paxá nasceu no ano 1182 da Hégira, correspondente ao ano 1769 da era Cristã. É digno de nota sabermos que, neste ano, também nasceu Napoleão Bonaparte. Da mesma forma que foram distintos pelo gênio militar, as personalidades destes líderes foram igualmente marcadas por uma ambição insaciável e uma atividade incansável.

Uma educação precoce, a vantagem da ciência, e um campo de atuação mais proeminente, deram à história de um Napoleão Bonaparte, um brilho e sucesso que foram negados ao outro. Ainda assim, alguém que aprende a ler e escrever aos quarenta e cinco anos, como foi o caso de Mohammed Ali, e de uma profissão modesta como vendedor de tabaco, e que ascende ao trono de um grande império, não pode ser um homem comum e por isso, pode ser comparado ao herói da França.

Com um exército disciplinado de 50.000 homens, uma frota de nove navios de guerra e uma receita de vinte milhões de dólares, considerava-se que ele possuía os meios para consolidar seu poder, estabelecer sua dinastia e manter sua independência de fato. Ele desejava alçar o Egito ao nível da Civilização Européia, superando a era augusta de El Mamun e Harun Rashid. O patrocínio que ele dava às artes e ciências; seu incentivo aos europeus de talento; suas editoras; as escolas politécnicas, técnicas, elementares e médicas. Suas fábricas e melhorias tambem são evidências ilustradas sobre sua administração civil.

O Paxá é normalmente chamado de Mehmet Ali, embora seu nome seja escrito como Mohammed Ali. A veneração Suprema pelo nome do seu Profeta proíbe que um Muçulmano profane o nome de Mohammed através do uso coloquial e assim é feita esta distinção ao se pronunciar seu nome. Ele também é chamado de Hajj Mohammed, ou peregrino, pois realizou a peregrinação à Meca, que é um dos cinco Pilares do Islam. Entre os inúmeros títulos notáveis atribuídos a ele por seus correligionários estão o de “quediva”, ou divino.

Mohammed Ali Paxá, nasceu em Cavala, uma pequena cidade portuária da Rumélia, na parte européia do Império Otomano. Este distrito é renomado no Oriente pelo seu tabaco aromático, que rivaliza com o de Laocidéia entre os fumantes do chibuque oriental. Cavala é distante, noventa milhas a leste de Salônica, a antiga Tessalônica.
Ibrahim Agha, o pai de Mohammed Ali, era o chefe de polícia na cidade de Cavala. Quando seu pai faleceu, Mohammed Ali, sendo bastante jovem, foi levado para o serviço do Chorbaji, ou governador de Cavala.

Cedo, uma oportunidade se apresentou, apesar de Mohammed estar ligado à família do Chorbaji, pela qual ele obteve prudência, inteligência e bravura. Uma certa vila, dentro da jurisdição de Cavala, se recusou a pagar suas contribuições usuais.

O Chorbaji estava indeciso em relação às medidas mais eficientes para adotar na ocasião, e Mohammed Ali prontamente ofereceu seus serviços. Eles foram aceitos, e um corpo de homens armados foi designado para acompanhá-lo. Ele foi até a vila, e no horário da oração, quando a mesma foi anunciada pelo “muezzin”, foi para a mesquita realizar suas devoções. Depois de orar, ele pediu que fosse comunicado aos quatro líderes Muçulmanos da vila, que o aguardassem, sob o pretexto de negócios importantes. Estas pessoas, sem suspeitar de nada, foram até a mesquita. Mohammed Ali imediatamente ordenou a seus homens para prender estes chefes da vila, que foram conduzidos à Cavala entre as ameaças dos habitantes.

Este ato de bravura resultou no pagamento das contribuições pelos refratários habitantes das vilas, e o Chorbaji ficou tão satisfeito que promoveu o jovem Mohammed ao posto de Buluk Bai, ou capitão de uma companhia. O Chorbaji também o deu em casamento a uma de suas parentes, uma viúva, através da qual ele teve três filhos: Ibrahim, Tosun e Isma’il. Este casamento com uma viúva deu origem ao boato de que, Ibrahim Pasha, o conquistador de Akka e Síria, era na realidade o enteado de Mohammed Ali.

Destes três filhos mais velhos, Tosun e Isma’il, morreram precocemente. O primeiro conduziu uma campanha bem sucedida contra a seita Wahabita da Arábia. Isma’il Paxá foi general da expedição contra Sanar e Kordofan, onde ele foi assassinado por um dos seus chefes subjugados.

Ibrahim Paxá, o filho restante, está agora na Síria, com um exército numeroso, colhendo os louros conquistados em suas últimas batalhas com o Grão Vizir e as tropas disciplinadas do Sultão.

Mohammed Ali, depois do seu casamento, juntou à carreira militar, o trabalho de comerciante e se tornou um grande negociador de Tabaco, o produto mais rico da Rumélia. Em breve, ele seria chamado para entrar em um empreendimento maior e mais importante. Napoleão havia invadido o Egito, e na Batalha das Pirâmides derrotou os Mamelucos, abrindo os portões do Cairo e assegurando a posse do país.

Em 1800, a Sublime Porta, em aliança com a Grã-Bretanha, e auxiliada por suas forças, fez preparações para recuperar o Egito, e entre os contingentes de tropas requeridos pela Porta, estavam cem de trezentos homens do distrito de Cavala. Eles foram reunidos pelo Chorbaji e colocados sob o comando de Ali Aga, seu filho, e Mohammed Ali foi nomeado para a dupla função de mentor de Ali e seu segundo no comando. Ali Aga em breve ficou insatisfeito com a fadiga do campo e retornou para casa, deixando sua companhia sob as ordens de Mohammed Ali. Ele assim adquiriu o posto de Binbashi no exército do Grão Vizir.

Após as vitórias de Abu Kir, e o campo de César, ganho pelas tropas Britânicas, o Grão Vizir começou as operações ofensivas. Mohammed Ali, em frequentes combates contras as divisões francesas, destacou-se por grande bravura pessoal e por tática militar, se não por ciência estratégica.
Os Beis Mamelucos

Aconteceram inúmeros incidentes da carreira do Paxá, durante a qual ele foi alternadamente aplaudido e reprovado pelos seus superiores, até o importante período da sua eleição como Governador do Egito, por uma delegação de Sheikhs, no dia 14 de Março de 1805. O país era, naquele período, presa de uma guerra intestina causada por aqueles pequenos tiranos, os Beis Mamelucos. Ele habilmente evitou e resistiu aos seus ataques e maquinações, e teve sucesso em obter dois meses após a eleição, sua confirmação como Paxá do Egito, pela Sublime Porta…

A influência Francesa ganhou ascendência nos conselhos Otomanos em 1807, e a Grã Bretanha declarou guerra contra o Sultão Selim e invadiu o Egito. As tropas de Mohammed Ali encontraram as forças britânicas em Rosetta e as derrotaram. Elas foram compelidas a evacuar Alexandria, que tinha capitulado ao General Frazer.
Foi neste período que a esquadra Britânica, comandada pelo Almirante Sir John Duckworth, passou pelas fortes baterias de Dardanelos e ancorou na cidade de Constantinopla. A travessia do Dardanelos por uma força militar nunca fora então realizada.

A Sublime Porta foi sensível aos importantes serviços prestados por Mohammed Ali, na então guerra contra a Inglaterra, e recebeu freqüentes manifestações de satisfação do Sultão, através de presentes ricos e suntuosos. Ele continuou a preservar seu governo contra os inimigos internos e maquinações estrangeiras. Os Beis Mamelucos permaneceram em armas contra ele, e conduziram uma guerra aleatória. O Mameluco Elif Bey foi apoiado pelos Britânicos.

Em Primeiro de Março de 1811, Mohammed Ali obteve sucesso em destruir grande parte destes Beis revoltosos através de um ardil sanguinário, sem paralelo nos anais da História exceto naqueles dos impérios orientais. Seria assim julgado pela da moral abstrata, ainda que a necessidade política a sancionaria no Oriente.
O Paxá não havia então estudado Maquiavel, que desde então ele leu em parte. Ele havia conseguido conciliar aqueles Beis em certo grau e os desarmou de seus medos e suspeitas. Sobre este período, a expedição contra os Wahabitas, os inimigos do Islam, estava se preparando para deixar o Cairo. A partida desta expedição tornou-se uma ocasião para conclamar as autoridades civis e militares em uma cerimônia.

Os Beis Mamelucos também foram convidados para se juntar às cerimônias e a procissão que sinalizaria o evento. Eles obedeceram ao convite e foram recebidos com muitas demonstrações de amizade, e com distinção condizente ao seu status. Aqui então, o Paxá habilidosamente conseguiu reunir quatrocentos chefes Mamelucos na cidadela do Cairo, aqueles velhos e formidáveis inimigos, tanto para seu engrandecimento pessoal quanto para a tranqüilidade do Egito.

A cidadela do Cairo, dentro da qual se localizava o palácio do Paxá, e o dilapidado, mas uma vez esplêndido serai de Selahiddin (Saladino), repousa sobre um ombro projetado do Monte Muqattam. Das suas muralhas franzidas são vistas, na direção oeste, e além do Nilo, a grandes pirâmides de Gizé e as de Sakhara e Dashur.

Imediatamente abaixo das muralhas, repousa o Cairo, a mãe do mundo, como é chamada na linguagem figurada da Arábia, com suas avenidas populosas, suas avenidas populosas, suas línguas de Babel, palácios suntuosos e mais esplêndidas mesquitas e minaretes. O córrego prateado do Nilo “abençoado” corre perto dos muros do Cairo, trazendo fertilidade para a terra e alegria para seu povo.

Desta cidadela, a procissão militar, liderada por Tosun Paxá, que havia sido nomeado para comandar a expedição contra os Wahabitas, se colocou em marcha, e descendo para a cidade, passou por uma passagem estreita ou desfiladeiro. Do outro lado, havia a rocha coberta por altos muros. Quando os Beis Mamelucos tinham entrado neste desfiladeiro, os portões dos dois lados foram subitamente fechados, e os soldados anteriormente a postos para este objetivo, começaram a atirar sobre estas vítimas insuspeitas de traição. Somente um Bei escapou desta terrível emboscada.

A destruição dos Wahabitas

A bem sucedida expedição do Paxá contra os Wahabitas da Arábia, os formidáveis inimigos da fé islâmica, estabeleceu a sua reputação como guerreiro, a consideração da Sublime Porta e de todo o mundo Muçulmano, tendo assegurado sua ininterrupta possessão do Egito.

A guerra foi concluída em 1813, pela captura de Dariyah, a capital Wahabi, e do seu Chefe Abdullah ibn Sa’ud. A condução da guerra havia sido entregue à Tosun Paxá, o filho mais velho de Mohammed Ali. Através dele, a guerra foi quase concluída, e Abdullah ibn Sa’ud foi enviado para o Sultão, sob os cuidado de Isma’il Paxá, junto com uns poucos objetos restantes de valor, que foram recuperados entre os objetos saqueados dos santuários de Meca e Medina pelo pai de Sa’ud.

Destes, o mais notável era uma cópia do Alcorão, tão pequena que rivalizava com a Ilíada de Homero que Alexandre, O grande, em pessoa carregava. Também havia pérolas e pedras preciosas de valor desconhecido, que a veneração pia havia depositado como ofertas votivas na tumba do Profeta.

Abdullah ibn Sa’ud foi trazido acorrentado na presença do seu soberano, e Mohammed Ali, intercedeu em seu favor pela clemência imperial. O Sultão/Califa Mahmud estava constantemente em busca do chefe de uma seita herética, que havia por anos desafiado a sua autoridade, profanado lugares sagrados do Profeta e interrompido as peregrinações anuais do mundo islâmico, à Kaaba sagrada, às águas de ZamZam, e ao sepulcro sagrado em Medina. Sa’ud foi publicamente decapitado em Constantinopla, na praça pública, que pode ser vista hoje pelo viajante, entre a Porta da Sublimidade e a Mesquita de Santa Sofia.

Os Wahabitas como uma seita religiosa, possuem a mesma referência à religião muçulmana. que o Socinianismo possui com o Cristianismo. O fundador, Abdul Wahab, nasceu na última parte do século passado 18 e após ter estudado religião em Medina e nas Madrassas, escolas de teologia de Bagdá, Basra e Isfahan, começou a pregar a nova doutrina, em que o Profeta Mohammed era um simples homem e que invocá-lo junto com outros santos era idolatria, pois não estava autorizado pelo Alcorão. Ele aderiu religiosamente ao texto do livro sagrado, mas rejeitou todas as tradições, a Hadith e comentários dos Imames ou doutores.

Ele dizia que os muçulmanos precisavam voltar ao espírito original do Alcorão e ao culto exclusivo de Deus, em sua unicidade indisputada. Neste espírito, ele proibiu a peregrinação à Meca, a invocação do Profeta, divertimentos, tabaco, seda e jóias. Ele propagou suas doutrinas com a espada, e as tropas dos seus sucessores marcharam sobre Meca e Medina, destruindo santuários veneráveis, e roubando-os de inumeráveis ofertas votivas, com as quais eles se enriqueceram, por piedade e devoção.Tais eram as doutrinas desta seita guerrilheira, que por um longo tempo desprezou e desafiou a autoridade espiritual e temporal do Sultão.

Liberto deste formidável inimigo, Mohammed Ali estava agora livre para subjugar as províncias do Sul (Núbia, Sanar e Kordofan). Estes países estiveram por um longo tempo em estado de anarquia e rebelião contra o governo do Egito. Ele, coerentemente, em 1820, enviou uma expedição de quatro mil homens para estes países, sob o comando do seu segundo filho, Isma’il Paxá, que resultou na conquista inteira de extensas províncias, com a qual o Egito sempre manteve um importante comércio.

A Revolução Grega

A Revolução Grega começou por volta dessa época e Mohammed Ali preparou-se para obedecer seu Sultão e fornecer ajuda sob forma de tropas, navio e dinheiro. Enquanto ele combatia o movimento dos Gregos e contribuía com seus esforços para a supressão da rebelião, precisa ser dito que ele não massacrou seus súditos desafortunados, que residiam em Constantinopla. Nenhum súdito grego foi molestado, e aqueles que fugiram para aquele país foram protegidos.

Os amigos da Grécia na Europa não temeram muito as hostilidades do Sultão, como as do Paxá, em sua luta pela independência. Acredita-se que este sentimento induziu alguns dos maiores governos a acenar para o Paxá com a possibilidade de sua independência, para retirá-lo das operações combinadas com a Porta. Se ele desconfiava da diplomacia Cristã, ou estava satisfeito em desfrutar da sua independência de fato, continuou a fornecer os principais meios de operação contra a Moréia. A política de ministérios europeus foi imperfeitamente compreendida, e a persistência causou a perda do esquadrão Egípcio em Navarino, e a retirada das legiões de Ibrahim Paxá da península.

Na cidade de Kutahya da Ásia Menor, na Primavera de 1833, os comissários, enviados da Inglaterra, França e Rússia, concluíram um armistício e uma convenção para a evacuação da Anatólia. Por esta convenção, com o consentimento da Porta, Mohammed Ali recebeu sua confirmação para o todo da Síria, compreendendo as quatro pachalicks de Alepo, Trípoli, Damasco e Saida, juntamente com a província de Adana, que é de primeira importância para o Egito, por causa da sua madeira. As notícias de paz foram recebidas em Alexandria com demonstração de alegria pública, e foram feitas todas as espécies de festividade. O Paxá foi comparado ao “Alexandre dos dois chifres”.

As negociações que aconteceram e as notas diplomáticas que foram trocadas entre Mohammed Ali e o Almirante Barão de Roussin, embaixador da França na Porta, exibem o verdadeiro caráter do primeiro. Ele respondeu em resposta à requisição do Barão para retirar suas tropas da Anatólia: “este pronunciamento contra mim não é uma pena de morte? Mas eu me sinto confiante, que a França e a Inglaterra não irão negar meus direitos”.

Mohammed Ali está agora na posse indisputada da Síria, Egito, o Hijaz da Arábia, Núbia, Sanar, Kordofan e a importante Ilha de Creta. Ele irá transmitir seu poder e império intactos para o seu sucessor na dinastia. Quando foi convidado para assumir o comando supremo do Egito, trinta anos atrás, ele disse, “Eu agora conquistei este país com a espada, e pela espada irei preservá-lo.”

Mohammed Ali é de estatura baixa ou mediana. Ele está agora em seus sessenta e sete anos, e possui uma constituição sólida e vigorosa. O rosto Tártaro, com suas maçãs do rosto altas, olhos pequenos e brilho geral, que são particularmente seus, foram perdidos entre os Otomanos da capital, pelos seus casamentos com os gregos da Jônia, ou com as beldades mais lânguidas da Circássia e Geórgia.

Seus olhos verdes escuros brilhavam com gênio e inteligência. Sua roupa, diferente daquela do Sultão Mahmud, não é do Nizam, ou da reforma. Ele ainda usa o turbante, que o Sultão.Sua roupa é de tecido colorido cor de oliva, sem detalhes nem decoração. Ao lado, ele sempre traz uma cimitarra curva.

O Paxá acorda cedo e possui hábitos frugais. No romper da aurora, ele realiza sas orações, e no pôr do Sol, ele vai até seu divã, para tratar de negócios. Após o anoitecer, ele janta e se retira para o seu harém, onde ele lê ou se reclina em uma almofada otomana enquanto uma de suas Sultanas favoritas, a filha de um Mufti, ou uma mulher de talentos, lê para ele às suas ordens. Ele ultimamente tem se dedicado a ler “O Espírito das Leis”, página por página, em um manuscrito traduzido, do qual cada página é levada por ele para seu harém, e se torna a ocupação ou relaxamento das suas noites. Ele leu Maquiavel alguns anos atrás e o Código Napoleônico é agora objeto do seu mais profundo estudo e reflexão.

Fonte: https://www.sunnah.org/history/mhdalip.htm



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